quinta-feira, 16 de junho de 2011

Vasto céu


"Perto o suficiente para tocar além das nuvens... Fica meu mundo."

É sempre o mesmo ritual, não importa se a temperatura estiver alta ou baixa, eu não mudo...
Abro os olhos lentamente e vejo o horário, tenho mais alguns minutos. Adormeço consciente. Abro novamente os olhos, deixo escapar um gemido choroso. Viro-me de bruços, arrasto os meus joelhos até o estômago, apoio minha testa sobre o travesseiro e trago meus braços para junto dos joelhos. Ainda muito sonolenta agradeço ao meu amigo por mais um dia de vida e peço que me dê forças para continuar. Após esse breve instante, preguiçosamente vou me erguendo. Nunca totalmente. Sento em minha cama em posição meditativa e com minha coberta faço ao redor de mim uma oca. Meu, e só meu, mundo. Pronto. Assim começa meu dia...
Enquanto caminhava em direção ao ponto de ônibus, recordei-me dos últimos acontecimentos em minha vida eis que então surgiu em minha mente um pensamento – nós  vivemos num ciclo insatisfatório de existência: trabalho, estudo e casa. Tal pensamento foi se ramificando, e entre os ramos surgiu uma indagação: quantas vezes paramos para apreciar as coisas ao nosso redor? Poucas, ou nenhuma.
Já no ponto, aguardando sem pressa os minutos que traziam meu transporte, olhei para o céu, como sempre costumo fazer nos dias em que penso muito, e percebi um estranho comportamento das nuvens. Sorri de mim mesma, ao imaginar o porquê das nuvens estarem daquele jeito. Foi como se voltasse a minha infância, quando podia, apesar dos pesares, fixar um olhar amoroso para tudo e todos. Fazer de pessoas comuns reis e rainhas, do barro um delicioso bolo de chocolate, entre outras coisas. Vi ali, naquele dançar das nuvens, anjos indo a uma reunião, ou quem sabe, a uma guerra. Perguntei-me qual a chance de um deles olhar em minha direção e perceber o que eu sentia. Ou será que ao meu lado já havia um que fazia isso. Um ser divino que me entendia... O que eu sentia... O que eu precisava... Alguém escolhido por meu amigo, este sempre tão atarefado, para estar ao meu lado.
Quis guardar aquele momento, então, posicionei a câmera do meu celular com muita dificuldade, posto que por toda parte que se olhe há uma gigantesca poluição visual. Cliquei muitas vezes. Porém, algum tempo depois − sentada no banco do ônibus − analisando as imagens, nada estava como eu vi. O céu é mesmo muito dono de si. Tão livre, nos proporciona visões incríveis para sermos tocados, mas por ter tamanha liberdade não se doa para que seja possuído. O céu nunca é o mesmo, e ao mesmo tempo não muda. Como corações humanos, talvez. Pois mesmo sendo tão perfeitos são imperfeitos demais. Sorri e chora. Tem moradores, mas também vive só.